Brasil caminha para liderar em biotecnologia

Notícias 18 de março de 2013

Wisley Tomaz

Da Redação

 

De acordo com dados recentes do relatório do Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA), o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de área plantada com transgênicos, atrás apenas dos Estados Unidos. Em 2012, pelo quarto ano consecutivo, a agricultura brasileira foi a que mais impulsionou o crescimento mundial da área plantada com variedades geneticamente modificadas (GM), com ampliação de 21% na comparação com 2011, atingindo a marca recorde de 36,6 milhões de hectares, um incremento de mais 6,3 milhões. Nenhum outro país alcançou tal expansão, desempenho que contribui para que o Brasil seja reconhecido como um líder global na adoção da biotecnologia.

 

O levantamento indica também o recorde da produção mundial, 170,3 milhões de hectares em 2012, o que representa uma taxa de crescimento de 6%, ou 10,3 milhões de hectares a mais do que os 160 milhões registrados em 2011. Comparando com o ano de 1996, o total plantado em 2012 representa uma ampliação de 100 vezes na área cultivada. Isso faz da transgenia a tecnologia agrícola mais rapidamente adotada da história da agricultura moderna em virtude de seus benefícios econômicos, sociais e agronômicos.

 

De acordo com a pesquisadora Adriana Brondani, diretora-executiva e porta-voz do Conselho de Informações sobre Biotecnologia, entre os aspectos que contribuem para o bom desempenho do país no que se refere à adoção da tecnologia está o sistema regulatório estável e rigoroso, as sementes adaptadas às diferentes realidades brasileiras e o investimento em pesquisa. Notavelmente, a Embrapa desenvolveu um feijão geneticamente modificado (GM) resistente a vírus que se constituiu no primeiro evento agronômico de biotecnologia totalmente desenvolvido por uma instituição pública de pesquisa. Outro destaque do levantamento deste ano é o predomínio dos países em desenvolvimento como propulsores da adoção da biotecnologia. Dos 28 países que plantaram variedades GM no ano passado, 20 são países em desenvolvimento. Com esse desempenho, pela primeira vez, esses países, liderados por Brasil, Argentina, Índia, China e África do Sul, plantaram mais da metade da área cultivada com essas varieda des (52%).

 

A pesquisadora explica que Mato Grosso, por ser um dos maiores produtores de grãos do país, se destaca na produção de milho, soja e algodão geneticamente modificado. Tanto, que para se ter uma ideia 89% da soja plantada no Estado é transgênica. “A política dos estudos biotecnológicos no Brasil é bastante rigorosa. Para se ter uma ideia, para um produto geneticamente modificado ser colocado no mercado são testados se é seguro para o ser humano, outras espécies animais, bem como os impactos para o meio ambiente. O que torna este processo um pouco mais caro e demorado”.

Segundo Adriana Brondani, especialmente na cultura do milho, em que a adoção de transgênicos está em 76% da área, ainda há espaço para que o Brasil continue crescendo. “O desenvolvimento de variedades adaptadas às condições brasileiras em culturas como a do milho e, no médio e longo prazo, outras variedades GM, a exemplo da cana-de-açúcar, podem elevar ainda mais a taxa de adoção”, revela. Atualmente a maior parte dos eventos GM no Brasil tem características de resistência a insetos, tolerância a herbicidas ou as duas combinadas para soja, milho e algodão. No caso da soja, a taxa de adoção em 2012 foi de 89% e para o algodão, 50%.

 

Setor está em alta

 

A Biotecnologia está em alta. De acordo relatório do sistema da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan ) publicado no final de 2012, quem trabalha na área está em uma das 11 carreiras da indústria criativa cujos salários estão acima da média nacional. O mercado formal do núcleo de biotecnologia tem rendimento mensal médio de R$ 4.258, duas vezes e meia maior da média nacional (R$ 1.733) e o quinto maior entre setores da Indústria Criativa.

 

O Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil mostra que o setor de Biotecnologia é formado por quase 13 mil empresas e aproximadamente 160 mil profissionais. Destes, 23 mil ocupam posições dentro do núcleo criativo do setor, sendo que apenas os biólogos representam 65% deste número. Dentre as diversas carreiras que uma pessoa pode seguir na área, os biotecnologistas são os que mais se destacam dos demais, com salário médio de R$8.701.

 

Quem ainda não está no mercado de trabalho também pode se beneficiar do bom momento. Diversos programas, a exemplo do “Ciência sem Fronteiras”, oferecem bolsas de estudos para estudantes de graduação e pós-graduação em Biotecnologia realizarem parte de seus estudos fora do País.

 

Um Trabalho publicado na edição de fevereiro do Journal of Agricultural Science, periódico vinculado à Universidade de Cambridge, no Reino Unido, confirmou que culturas geneticamente modificadas (GM) oferecem vantagens se comparadas às suas variedades convencionais. A pesquisa intitulada “Impactos econômicos e agronômicos das culturas geneticamente modificadas comercializadas: uma meta-análise” foi conduzida por um grupo de cientistas liderados por F. J. Areal. O estudo traz conclusões que contradizem críticas às culturas transgênicas. Evidências apontam que o uso de biotecnologia agrícola é vantajoso tanto do ponto de vista econômico quanto do agronômico. De acordo com o pesquisador, particularmente, os eventos Bt (de resistência a insetos) são os que mais superam os não-transgênicos no que diz respeito a produtividade e margens de lucro. Sendo que outra característica bastante adotada na agricultura, a tolerância a herbicidas, também se destacou por proporcionar benefícios. “As culturas tolerantes a herbicidas têm performance econômica melhor devido ao fato de facilitarem o manejo da lavoura”.

 

A análise dos dados levantados em todas as regiões do mundo concluiu que, no que se refere ao nível de desenvolvimento, as plantas GM são vantajosas para todos os países e tipos de agricultura. Sementes transgênicas têm desempenho ainda melhor nos países em desenvolvimento, com destaque para a cultura do algodão BT, a mais lucrativa delas. Para o representante do ISAAA no Brasil, Anderson Galvão, esse aumento demonstra que os agricultores brasileiros têm à sua disposição tecnologias que permitam o aumento de competitividade do setor primário. Segundo ele, os benefícios provenientes da redução de custos em virtude do manejo facilitado dos transgênicos revelam que a tecnologia disponível no Brasil é equivalente àquela colocada à disposição nos países desenvolvidos. (WT)

 

A Gazeta – CUIABA – (MT) – 18/03/2013