Presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), Ph. D. em ciência dos alimentos, professor e pesquisador do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em segurança dos alimentos
Os organismos geneticamente modificados (OGMs) – ou transgênicos – são uma realidade no agronegócio mundial e brasileiro. A maior parte da soja e do milho, matérias-primas de alimentos industrializados, é de origem transgênica e foi importante no processo de consolidação do país em potência agrícola. Aprovado recentemente, o feijão transgênico figurará, em breve, no rol dos produtos utilizados pelo brasileiro, assim como cana-de-açúcar e eucalipto, já em fase de estudos.
Se, por um lado, os OGMs se firmaram no agronegócio, o mesmo não se pode dizer quanto ao conhecimento dos consumidores sobre eles, como no aspecto da segurança dos alimentos. E é sobre esse ponto que vale esclarecer a posição da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), instância colegiada vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
A CTNBio é responsável pela avaliação científica de biossegurança dos transgênicos. O processo envolve altos níveis de sofisticação e detalhamento, seguindo rigorosos critérios de padrões internacionais. Os membros e assessores técnicos da comissão são cientistas e pesquisadores renomados, doutores especialistas nas questões de segurança dos processos de transformação nas áreas humana, animal, vegetal e ambiental.
As análises, baseadas em aspectos científicos, não sofrem nenhum tipo de influência, seja ela política, seja por parte de empresas. Quando um OGM é aprovado pela CTNBio, a chancela leva em conta características nutricionais, toxicológicas, alergênicas e ambientais, entre outras.
Quanto à desinformação ao consumidor há muito a ser feito. É comum vermos pessoas confundindo transgênicos com gordura trans e atribuindo o seu cultivo ao aumento do uso de agroquímicos. No entanto, é fato que a aceitação dos OGMs tenha aumentado nos últimos anos, mas fica claro que a discussão sobre o assunto deve ser fomentada pela imprensa, indústria, empresas de biotecnologia e o próprio governo, sempre com o intuito de desmitificar as informações equivocadas existentes, a começar pela rotulagem de alimentos.
É inegável que o consumidor tem o direito de saber se um produto que está em sua mesa contém OGMs, mas o rótulo com a letra T dentro de um triângulo amarelo não ajuda a esclarecê-lo sobre a segurança e inocuidade, já cientificamente analisados pela CTNBio. Podemos afirmar que os transgênicos são tão seguros quanto os análogos convencionais, pois foram testados exaustivamente antes de aprovados.
O aspecto positivo na questão é a quebra de paradigmas e de comportamento em países historicamente contrários ao seu consumo, principalmente na Europa. Recentemente, grupos de agricultores europeus manifestaram-se a favor da adoção de OGMs, ótima notícia para o Brasil, hoje um dos grandes produtores e exportadores mundiais de alimentos transgênicos. Ainda há longo caminho a ser trilhado, mas com a correta informação ao consumidor, aliada ao aumento dos recursos e investimentos em pesquisas e novos projetos, o Brasil pode ampliar sua referência em biotecnologia.
Flávio Finardi Filho
Fonte: Correio Braziliense – BRASILIA – (DF) – 06/12/2012